Pressionar o
play.
Começamos
baixinho, mas bem no alto. uma entrada em força, como quem nos sussurra e nos
chama, em tom desafiante, para a viagem que se aproxima. O psicadelismo do
início da primeira faixa, e do álbum em si, tem a sonoridade captativa do
cantar das sereias, seduzindo-nos e amarrando-nos de forma irresistível. É
impossível não ficar. E será que vamos continuar tão above?
Afinal, é isso
que distingue as grandes bandas de grupos instantâneos, qual puré de batatas.
“Endors Toi”. A
única coisa que têm de instantâneo é, de facto, ser uma faixa favorita
imediata. E faz o nome da faixa anterior parecer tão pequeno, já que esta nos
faz transportar a planos ainda mais acima. O contraste da bateria atrás que faz
o coração saltar do peito e a voz que o coloca delicadamente de novo entre as
costelas, a distorção e a guitarra final. Quero ouvir outra vez. Eu tenho de
ouvir outra vez! E ainda só vamos na segunda faixa.
Entramos agora
numa certa melancolia, entre sonhos desfeitos; o som do piano não permite que
seja de outra maneira. Mas eis que voltamos a casa, com uma música que tem
tanto de acolhedora como de nos fazer querer saltar e dançar porta fora –
talvez para o jardim, ao som de um álbum com mais cores que a sua capa. E é
aqui que entramos no lado mais obscuro do disco, com “Why Won’t They Talk To
Me?”, “Feels Like We Only Go Backwards” e “Keep On Lying”. Afundarmo-nos neste
sopro é, de certa forma, navegarmos em nós próprios, desde o momento acústico
da primeira até às vozes de fundo (brilhantemente situadas) da última. Ainda
sobre esta faixa, importa salientar que a partir do minuto 4:19 tudo muda,
preparando-nos para o que se avizinha – aqui nada para, só o tempo. Como é que
tudo isto coube num só álbum?
Ainda no jardim,
ficando a ver elefantes nas nuvens, levantamo-nos pesadamente e balançamos o
espírito ao som do psicadelismo atravessando a selva. A primeira faixa que
ouvimos isoladamente há algum tempo encaixa tão bem aqui que parece nunca ter
feito sentido anteriormente. Um fim cortante que nos deixa a querer mais. E aí
vem.
Sem conseguir
relaxar – este álbum já corre pelo corpo – “Nothing That Has Happened So Far
Has Been Anything We Could Control” deixa-nos entrar num filme que parece feito
para nós, ou mesmo por nós. A fatalidade incontrolável (e incontornável) da
vida aqui retratada com uma bateria que não dá descanso, que nos marca, nos
atira, nos pisa e empurra. A experiência sensorial parece só agora ter
começado; e já se ouve a última faixa a iniciar.
“Sun’s Coming
Up”, ainda que adivinhando um novo dia, um novo início, leva-nos para o fim e
traz o peso da despedida. E porque é que a bateria parou agora? Precisava que
me levantasse de novo. E é aos 2:42 que o sol se levanta e, fatidicamente,
viajamos de novo para a primeira faixa. Só mais uma vez.
Não esperem por
outubro, 3 anos na prisão valem bem a pena. E ouvi dizer que deixam levar o
mp3.