6.9.12

Lonerism




Pressionar o play.
Começamos baixinho, mas bem no alto. uma entrada em força, como quem nos sussurra e nos chama, em tom desafiante, para a viagem que se aproxima. O psicadelismo do início da primeira faixa, e do álbum em si, tem a sonoridade captativa do cantar das sereias, seduzindo-nos e amarrando-nos de forma irresistível. É impossível não ficar. E será que vamos continuar tão above?
Afinal, é isso que distingue as grandes bandas de grupos instantâneos, qual puré de batatas.
“Endors Toi”. A única coisa que têm de instantâneo é, de facto, ser uma faixa favorita imediata. E faz o nome da faixa anterior parecer tão pequeno, já que esta nos faz transportar a planos ainda mais acima. O contraste da bateria atrás que faz o coração saltar do peito e a voz que o coloca delicadamente de novo entre as costelas, a distorção e a guitarra final. Quero ouvir outra vez. Eu tenho de ouvir outra vez! E ainda só vamos na segunda faixa.
Entramos agora numa certa melancolia, entre sonhos desfeitos; o som do piano não permite que seja de outra maneira. Mas eis que voltamos a casa, com uma música que tem tanto de acolhedora como de nos fazer querer saltar e dançar porta fora – talvez para o jardim, ao som de um álbum com mais cores que a sua capa. E é aqui que entramos no lado mais obscuro do disco, com “Why Won’t They Talk To Me?”, “Feels Like We Only Go Backwards” e “Keep On Lying”. Afundarmo-nos neste sopro é, de certa forma, navegarmos em nós próprios, desde o momento acústico da primeira até às vozes de fundo (brilhantemente situadas) da última. Ainda sobre esta faixa, importa salientar que a partir do minuto 4:19 tudo muda, preparando-nos para o que se avizinha – aqui nada para, só o tempo. Como é que tudo isto coube num só álbum?
Ainda no jardim, ficando a ver elefantes nas nuvens, levantamo-nos pesadamente e balançamos o espírito ao som do psicadelismo atravessando a selva. A primeira faixa que ouvimos isoladamente há algum tempo encaixa tão bem aqui que parece nunca ter feito sentido anteriormente. Um fim cortante que nos deixa a querer mais. E aí vem.
Sem conseguir relaxar – este álbum já corre pelo corpo – “Nothing That Has Happened So Far Has Been Anything We Could Control” deixa-nos entrar num filme que parece feito para nós, ou mesmo por nós. A fatalidade incontrolável (e incontornável) da vida aqui retratada com uma bateria que não dá descanso, que nos marca, nos atira, nos pisa e empurra. A experiência sensorial parece só agora ter começado; e já se ouve a última faixa a iniciar.
“Sun’s Coming Up”, ainda que adivinhando um novo dia, um novo início, leva-nos para o fim e traz o peso da despedida. E porque é que a bateria parou agora? Precisava que me levantasse de novo. E é aos 2:42 que o sol se levanta e, fatidicamente, viajamos de novo para a primeira faixa. Só mais uma vez.


Não esperem por outubro, 3 anos na prisão valem bem a pena. E ouvi dizer que deixam levar o mp3.

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