13.1.12

suicide note




é sexta feira, dia treze

e entre superstições que não são minhas


(porque hoje estou vazia)


vou acabar o que começaste

gritar sem voz, o desgaste

porque foi como me deixaste

um lixo, um traste,

um saco vazio no vento,

que sem ele não tem sustento,

ao menos não me mataste.


Ao menos não me mataste?

pois mais valia tê-lo feito

do que todo o sonho desfeito

aquele onde me afogaste,

rapidamente, me entrelaçaste,

mais rápido me acordaste.


Mas por que me acordaste?

se eu estava tão bem sonhando,

ser outra que não eu,

alguém feliz, que tudo deu

o que tinha e o que imaginava

sem saber que o sonho se acabava.


E dormindo, sonhando,

seguraste-me pelos ombros e me abanaste,

com todas as forças me arrancaste,

da ilusão que se desvanecia,

do muro que caía,

de verdes pedras, ainda tão poucas,

que duas pessoas loucas,

um dia julgaram ser capazes de erguer.


Mas nem com a tua voz o fizeste,

com estranha calma e ponderação,

aquele timbre que sempre me segurou a mão,

deixava-me agora ao silêncio da minha escuridão.


Não, não ia deixar cair a máscara,

Aliás só os ratos sentem,

só os ratos têm medo,

só os ratos choram - foi o que me ensinaste;

e mantive uma serenidade que me tiraste.


Sequei as lágrimas que não me permitiste,

Pus o sorriso que pediste,

Máquina de acções, andar comer sorrir,

até ser hora de o comboio partir.


Mas as três horas que se seguiram,

nada mais me permitiram,

que adormecer os sentimentos,

refugiar em livros, filmes e entretenimentos,

Ansiando pelo regresso a casa,

Tentando não pensar em mais nada.


E foi aí que caí.

Num grito mudo, numa lágrima seca, num soco imóvel,

E afoguei-me entre as drogas dos comuns mortais

Sendo nada mais do que as demais - afinal eu era um rato.

Mas era realmente em mim

que me ia afogando

numa escuridão sem fim

no vazio que deixaste,

não voltaste, nem reparaste,

tu nem sequer tentaste!

e nesse silêncio escuro e vazio,

onde só queria deixar de nadar e adormecer.

Deixar.

Apagar por fim, o pavio

Para me deixar arder.





Mas não hoje. Hoje é dia treze

coincidências, esperanças, destinos,

e entre tanto azar e sorte,

vou deixar de brincar aos casinos.

Hoje eu controlo a minha morte.




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